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Proposta: A Indústria Cultural e o III Festival da MPB de 1967.

  • Fabiene Mattos
  • 27 de jan. de 2016
  • 7 min de leitura

Usando como base o III Festival da MPB de 1967, vamos analisar os conceitos de Indústria Cultural, vindos dos estudos de Frankfurt e também o papel deste mesmo Festival em relação ao cenário da ditadura militar.


Indústria Cultural é o nome que se dá a produção em massa de bens culturais. A transformação da cultura em mercadoria é representada nesse momento histórico.


O Brasil viveu um período, em que tentava-se silenciar e esconder a população que lutava pelas questões politicas e sociais, que durou vinte e um anos. O Festival da MPB de 1967, assim como outros movimentos culturais, foi responsável por trazer as questões que a população levantava e tinha vontade de mostrar, tanto seus pensamentos, quanto sua cultura. As músicas traziam letras de protestos e eram usadas para que a população abrisse os olhos ao que estava acontecendo, identificando-se.


Os festivais foram surgindo mesmo com a instauração da ditadura militar no Brasil, que já existia há mais ou menos 10 anos. Esses festivais colaboravam para a estratégia de promoção e divulgação dos artistas, principalmente os festivais realizados pela TV Record. Atraíam um público, na maioria estudantes. Tentando desviar a atenção dos acontecimentos naquele momento, o país começou a investir mais nos meios de comunicação, principalmente na televisão, aumentando, assim, seu consumo. A TV estava encarregada de veicular os festivais à população brasileira, fazendo com que os artistas fossem divulgados e ficassem conhecidos lançando, em suas canções, ideias contra o governo, interpretadas como afronta e levando até à prisão de alguns artistas brasileiros.


O III Festival da MPB, de 1967, era o mais esperado pelo público, foi exibido pela TV Record e resultou em um documentário lançado 43 anos depois da noite final. A canção vencedora foi “Ponteio”, que tinha uma letra sobre protesto, cantada por Edu Lobo e Marília Medalha. Em segundo lugar, ficou a canção “Domingo no Parque”, interpretada por Gilberto Gil e os Mutantes; em terceiro, tivemos a música “Roda Viva”, de Chico Buarque; e, em quarto lugar, a música “Alegria, Alegria”, cantada por Caetano Veloso e Beat Boys. O quinto lugar foi da canção “Maria, Carnaval e Cinzas”, de Roberto Carlos. Esse festival abriu as portas para a guitarra elétrica no Brasil, quando Caetano Veloso trouxe a banda argentina “Beat Boys”, e iniciou sua canção com guitarras elétricas sendo vaiado no mesmo momento, pois, devido ao ambiente político-cultural da época, esquerdistas acreditavam que a influência do rock era uma alienação cultural. Porém, o público se deu conta das manifestações favoráveis que a canção de Caetano continha e, mesmo os mais nacionalistas, mudaram de opinião, aplaudindo – o no final da apresentação e garantindo - o o quarto lugar naquela final de festival.


Quando analisamos esse período, podemos perceber que os festivais foram muito importantes, pois a cultura popular estava em alta e o povo poderia ter voz dentro daquele cenário artístico. Através dos meios de comunicação, os artistas influenciavam comportamentos e até criavam novos movimentos, desenvolvendo, assim, a Indústria Cultural no Brasil.


Com base no conceito de Indústria Cultural, podemos observar que o festival foi criado com a intenção de produzir obras para uma grande quantidade de pessoas e que tivessem rápida aceitação, com conteúdos que fossem compreendidos por todos de uma maneira uniforme. A ideia era criar um novo gênero de música, o da música popular brasileira, que criasse um valor ideológico e passasse visões do mundo, através das letras das canções e dos artistas que ali apresentavam – nas. Os meios de comunicação onde seriam transmitidos os festivais, eram o elo de ligação, entre a burguesia e o restante da população. Os momentos em que a população assistiria aos festivais, que seriam mostrados como lazer, na verdade, nada mais era do que o momento de venda de cultura, o momento de consumo de uma determinada produção.

Na época da ditadura militar, esses movimentos ajudaram a população na fuga da repressão e da injustiça. Nesse período, a Indústria Cultural teve maior impulso no Brasil, pois tentava libertar o brasileiro das amarras políticas e controladoras. A música poderia levar a população a contestar. Por isso, a censura marcava por todos os lados e não dava espaço para a liberdade de expressão tão esperada.


Roda Viva de Chico Buarque - 1967


Escolhemos examinar, nesse artigo, a canção “Roda Viva”, de Chico Buarque, e pontuar o que o artista tinha a intenção de transmitir, sem cair nas armadilhas da censura da época.


A canção “Roda Viva”, escrita em 1967 por Chico Buarque de Hollanda, tem, em todo seu contexto histórico, os acontecimentos dos difíceis anos de ditadura, mencionados no início desse texto. Ele remete, na letra dessa música, o que os tempos de escuridão da ditadura representaram para o povo brasileiro. Esse tempo de tempestades representava o fim da liberdade de expressão para a cultura.


Os artistas dessa época, assim como escritores e jornalistas, usavam muitas metáforas para despistar quando a intenção era se referir a qualquer que fosse a crítica, política ou social. Usam linguagem figurada para desviar da censura que dominava o país.

Procuramos no dicionário e constatamos que roda vida significa movimento incessante, corrupto, cortado; pode significar também barulho, confusão, inquietação. A letra fala sobre ações da roda-viva que impediam o progresso e a manifestação da população, trazendo resultados negativos.


A canção fala de morte, o que contradiz a própria palavra “roda-viva”.


Analisaremos algumas frases da música escolhida para que fique mais claro o ponto de vista do artista e as metáforas usadas:


“... a gente estancou de repente”... – significa que alguma coisa foi arrancada ainda em movimento. O uso da palavra estancar nos faz pensar em sangue. Somos impedidos de decidir o futuro da nação e o destino do povo, como quando um fluxo de sangue é interrompido. Essa tempestade que chega tira o direito do cidadão de expressar seus sentimentos, seus sofrimentos.


“... A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar. Mas eis que chega a roda-viva, e carrega o destino pra lá ... A gente vai contra a corrente, até não poder resistir ... Faz tempo que a gente cultiva a mais linda roseira que há. Mas eis que chega a roda-viva, e carrega a roseira pra lá” ... - Roda-Viva seriam os militares da ditadura em questão, que tinham medo da voz do povo, da rebelião que poderiam causar, de uma suposta revolta, reprimindo-os fortemente e exilando-os.


Podemos observar que dois momentos cortam a canção. Um é o momento em que se expressa o desejo de ser alguém na história, de ter voz ativa, de ser ouvido em meio à confusão. O segundo movimento mostra a ação interruptiva executada pela roda-viva. A aparência do texto é inocente, se pensarmos no contexto de caos em que se encontrava o Brasil. E, quando vemos o artista se referir à brinquedos infantis, sentimos como se as coisas estivessem fora de esquadro, como se fosse uma situação absurda se comparada com todos os acontecimentos do momento. Afinal, a ditadura, e vinda com ela a censura, não eram algo normal, fugiam à razão.


A letra demonstra forças que tentavam fazer valer a voz do povo, porém, que sofriam fracassos constantes e seguidos. Aliás, vemos isso claramente na experiência brasileira, tanto pelo lado político e social, quanto do ponto de vista cultural.


Chico Buarque driblava os maus momentos com cuidado, porque precisava despistar a censura, por isso, procurava encantar com palavras que determinavam ações fantasiosas e encantadas.


Relacionando a letra de “Roda Viva” com o contexto da Indústria Cultural, estudado em sala de aula, observamos que, Chico Buarque, passa a sensação de que os artistas são esmagados pela Indústria Cultural. Passa-se a ter produtos muito parecidos, com a intenção de atingir um número grande de público e, cada vez menos, a qualidade é o que importa. O artista que pretende trazer algo inovador, encontra dificuldade de engrenar nessa indústria. As informações contidas nas canções, nos filmes, nas produções artísticas, são transformadas em intenções mercadológicas, o esforço de refletir e de pensar sobre uma criação de um artista não existe mais, o aspecto artístico das obras são perdidos e para aqueles que tentam mostrar novas ideias, o espaço dentro dessa produção da mídia, é quase nulo.


Os festivais, assim como as canções que compunham o quadro representativo, foram criados a fim de mostrar o interesse social da burguesia e todo o controle que está em poder dela. Criam-se formas de comportamento que são vendidos através da Indústria Cultural, e que, quando funcionam, são produzidos em série, no intuito de atingir a massa indistintamente. O artista criador é substituído por uma linha de produção e vemos as obras da forma que essa indústria quer nos mostrar e não a essência verdadeira do por que foi criada.


Analisando por esse lado, podemos identificar o sofrimento de Chico Buarque e de outros grandes artistas que tentavam, com aquele festival de 67, ingressar na Indústria Cultural através de um novo estilo musical que contasse suas ideias ao mundo. Mais do que isso, acabaram como parte de um ato político e histórico que ocorria em nosso país naquela época.


Podemos dizer que, no momento vivido em 1967, Chico Buarque tentou nos mostrar o conflito existencial da época. Afastando esse contexto da história, e trazendo a música pros dias de hoje, independente de ditadura ou militarismo, conseguimos afirmar que a letra de “Roda Viva” pode ser encaixada para explicar a situação vivenciada nos dias de hoje. Quarenta e sete anos depois, a canção pode ser usada atualmente para explicar a essência humana, passamos nossas vidas tentando fazer com que nossa voz seja ouvida e que nossos desejos sejam atendidos, tanto quando pensamos no social, na política, ou na questão da cultura. O povo brasileiro é oprimido, impedido de se desenvolver, pois vivemos num mundo que está sempre clamando pelo urgente e sempre inovando. O conflito existencial existiu e sempre vai existir.


O novo está sempre atropelando qualquer desejo de mudança e de superação. A roda-viva nos arrasta pelos tempos atuais através do consumo, das mudanças repentinas, da tecnologia que avança, deixando o velho para trás muito rápido e quase que esquecido. Apesar de termos mais liberdade de nos expressarmos nos tempos de hoje, ainda somos oprimidos e muitas vezes obrigados a nos calar, pois o poder que a política e a sociedade detem, não nos permite alcançar mudanças satisfatórias.


Os festivais, assim como as canções que compunham o quadro representativo, foram criados a fim de mostrar o interesse social da burguesia e todo o controle que está em poder dela. Criam-se formas de comportamento que são vendidos através da Indústria Cultural, e que, quando funcionam, são produzidos em série, no intuito de atingir a massa indistintamente.


Analisando por esse lado, podemos identificar o sofrimento de Chico Buarque e de outros grandes artistas que tentavam, com aquele festival de 67, ingressar na Indústria Cultural através de um novo estilo musical que contasse suas ideias ao mundo. Mais do que isso, acabaram como parte de um ato político e histórico que ocorria em nosso país naquela época.

Disciplina: Teoria da Comunicação II.

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