Proposta: Analisar uma produção da mídia relacionando com a Estética da Comunicação
- Fabiene Mattos
- 27 de jan. de 2016
- 4 min de leitura
Analisei uma série animada criada por Pendleton Ward e produzida pela Frederator Studios. “Adventure Time”, ou “A Hora de Aventura” como é conhecido no Brasil, é um desenho para crianças televisionado pelo Cartoon Network ... Talvez, nem tanto pros pequenos. Apesar de seu cenário colorido, ambiente normalmente ensolarado, figuras delicadas e encantadas, tem momentos de teor bem mais adulto do que infantil como, solidão, ética e relações amorosas complicadas. A trama se desenrola demonstrando sentimentos que são bem mais intensos do que se espera de um desenho infantil. Quase todos os episódios têm um musical e as músicas tem sempre uma ligação com os sentimentos dos personagens.
Contém uma temática que trata da vida posterior ao fim do mundo, mundos paralelos, mitologia, reencarnações e possui muita simbologia e referências adultas, destacando essa ideia com cenários surrealistas e episódios que às vezes parecem não ter sentido nenhum. O desenho conquistou muitos jovens aqui no Brasil, porém usa uma linguagem apropriada para menores de idade e não há problema em crianças assistirem, o contexto adulto está subentendido e até mesmo os mais velhos tendem a pensar bastante para compreender.
A Terra de Ooo, onde se passa a história, é uma crítica para a atualidade. Representa o futuro do nosso planeta, após “A Guerra dos Cogumelos”, que é comparada à guerra nuclear, ou seja, a trama se passa após a destruição da Terra. A guerra, ao que tudo indica, aconteceu a mil anos atrás e originou mutações nas criaturas, dentre elas demônios, gigantes, animais falantes, fantasmas, etc. A série já mostrou diversas dimensões em seus episódios, desde o inferno representado pela Terra dos Mortos, pela Noitosfera e até mesmo Marte, que no desenho é governada por Abraham Lincoln. Quase não existem informações que configurem o mundo humano, a não ser por antigas televisões, esqueleto, bicicletas que aparecem de vez em quando.

A geografia dessa terra dá sinais de ser irregular, talvez em decorrência das bombas atômicas lançadas sobre o planeta durante a guerra nuclear. Edifícios destruídos, carros e outros objetos se encontram parcialmente enterrados em um monte de lixo, isso pode ser visto na abertura do desenho.
Para captar as dicas quase imperceptíveis sobre a origem do apocalipse, é necessário prestar muita atenção nos onze minutos de apresentação de cada episódio. Não há continuação de um episódio para outro, somente fragmentos de acontecimentos e revelações, como um quebra-cabeça a ser montado.

Finn, o personagem principal, é o único humano nessa terra que tem como objetivo de vida ser um grande herói e vive com problemas amorosos com as mais diversas princesas. Vive uma paixão platônica pela Princesa Jujuba, a rainha do Reino Doce. Sobreviveu à guerra e foi encontrado ainda bebê pelos pais de seu cachorro mágico Jake. Os dois são melhores amigos e irmãos de coração. Aqui, a história fica voltada para a criança: engraçada, com situações que divertem o espectador. Todos os personagens possuem características marcantes e criativas, a ponto de entreter a todos, vamos descrever alguns deles:

Rei Gelado: Sequestra princesas para que se casem com ele e é tratado como um vilão, porém, é um personagem adorado por muitos. Ele é solitário e mora em um castelo de gelo isolado de outros reinos. Vive com seus diversos pinguins que trata como seus filhos.

Marceline: A Rainha dos Vampiros toca baixo e é vegetariana. Parece ser uma vilã, porém, logo descobre-se que é amiga de Finn, Jake e teve um relacionamento mau resolvido com a Princesa Jujuba no passado. Essa relação é suspeita desde o início dos episódios. Ela tem problemas com o pai que não sabe lidar com ela como filha e se sente excluída por ele. É a única personagem que se lembra da transformação sofrida na Terra de Ooo.

Princesa Jujuba: Exemplo de mulher inteligente, bonita e feminina. Cuida muito bem do seu reino, que se chama “Reino Doce” e as pessoas que vivem lá são feitas de doce como ela. Ela é cientista, pode ter centenas de anos e acreditamos que ela seja uma vilã enrustida, já que é fria, calculista e chega a destruir suas criações quando não servem mais para seus testes infinitos.
Além desses, há muitos outros personagens inesquecíveis como a Princesa Caroço e o B.M.O.
Vários episódios te fazem pensar e tentar entender a mensagem a ser absorvida, deixando bem claro a complexidade de “Adventure Time”. Espalhados pelos personagens e episódios essas lições servem para qualquer um que assista a série, sendo criança ou adulto. Talvez, passe despercebido para os espectadores menores, mas se eles se encaixarem em alguma das situações, eles se lembrarão do que viram, pois percebemos essas mensagens quando estamos nos relacionando com o mundo, nos moldamos e interpretamos certas situações a partir de cada cena. E, para os adultos, as frases servem para levar para a vida inteira, como em um episódio, em que Jake tenta ensinar o desapego a Finn: Ele tem uma caneca na mão e diz: “Está vendo essa caneca? É literalmente minha favorita. Observe...” - então ele joga – a longe, deixando quebrar. E continua falando: “Agora ela foi embora para sempre, então não é mais real e eu não me importo mais com ela.” Atribuímos significados ao que nos foi apresentado de acordo com a nossa subjetividade e a sociedade em que vivemos.
“Adventure Time”, diferentemente de “OS Simpsons” e “South Park”, trata de temas adultos com cuidado, sem usar palavras feias, de baixo calão e nem sangue para expressar a dura realidade a suas críticas sobre o mundo. Hora de Aventura é uma mistura de fofura e de um mundo surrealista. O desenho é capaz de dar vida aos abstratos. A série utiliza o conceito de estética da comunicação carregada de signos e mensagens que influenciam e contribuem para a transformação do indivíduo sem que ele perceba. A comunicação ali não é neutra, ou seja, interfere na construção de significados do sujeito.
“A Hora de Aventura” faz surgir um senso comum entre os espectadores compartilhando experiências e lições de maneira bastante inteligente, não exercendo somente troca de informações. Os produtores reconhecem que o uso da linguagem toma forma na sociedade, então, introduzem em seus episódios diversos símbolos, sentimentos e sensações por intermédio de seus personagens cativantes, confusos e apresentando as fortes relações que existem entre eles.
“Às vezes a vida é assustadora e escura. É por isso que precisamos encontrar a luz.” B.M.O. – Adventure Time.

Disciplina: Estética e Comunicação Comparada.
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