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Proposta: Festival da MPB de 67 x Cultura como Mercadoria

  • Fabiene Mattos
  • 27 de jan. de 2016
  • 4 min de leitura

A arte, transmitida através do cinema, da fotografia, da pintura, é utilizada como mercadoria com o intuito de vender as ideias dos artistas e criar novos comportamentos na sociedade. A mídia é a base de transmissão desses valores culturais e através dela passamos a consumir formas diferentes de comportamento.

A hierarquia social começa a ser estabelecida através dos meios de comunicação, controlados pela burguesia, que determina o que devemos ter acesso e o que vai nos atingir.

A final do Festival da MPB de 1967 claramente nos mostra o panorama da influência exercida pelas criações da burguesia. A ideia dos produtores desse festival da TV Record era de vender um bem cultural a fim de padronizar o gosto do público pela música popular brasileira. Foi criada uma imagem para a divulgação das músicas e dos artistas, produzindo um bem de fácil comercialização e de grande aceitação do público.

No roteiro criado pela direção da Record e pelos produtores, foi planejado um espetáculo que envolvia atuação dos artistas que se apresentavam, cada um mostrando uma personalidade diferente para atrair o público nas noites de sábado. Os responsáveis pelo evento não faziam ideia de que poderiam se envolver em um ato político grandioso, a princípio o que queriam era vender um novo produto musical à população. Estavam todos reunidos para criar um bem de fácil venda, sem entender o que tudo aquilo poderia ocasionar através dos reais valores das canções.

A ideia de transformar o público local em um receptor da produção da TV Record tomava ali proporções imensas e inimagináveis. Os produtores entendiam o festival como um truque de manipulação, um recurso mercadológico para atrair consumidores da música popular brasileira, sem se dar conta do momento caótico e histórico na política que o país vinha passando.

A proposta inicial era trazer algo novo que caísse no gosto popular e pudesse, a partir daquele momento, ser reproduzido em grande escala, visando obviamente o lucro que a burguesia teria com a produção em massa dessa nova cultura da música popular brasileira. O papel da publicidade e divulgação desse evento era, no início, somente atrair as pessoas aos locais de apresentação, em especial, para a final do festival, de onde sairiam artistas e novas músicas consagradas.

Como exemplo de que o propósito era atuar no palco na final do Festival da MPB de 1967, podemos citar o caso de Sérgio Ricardo, que na visão do governo militar teve uma conduta indevida, provocando baderna ao quebrar seu violão e o jogou no público quando foi vaiado pela plateia.

A explicação dos produtores é que tudo era planejado dentro do produto mercadológico que esperava passar naquele evento, portanto Sérgio Ricardo, que tocou a música “Beto Bom de Bola”, foi desclassificado na final do festival, pois apresentou um produto que fugia do que eles chamavam de “música de festival”, comparando com as outras músicas que se colocaram nos primeiros quatro lugares na final. Os produtores não se davam conta do valor artístico daquelas produções, mostrando total falta de inteligência dos criadores do evento.

Eles usaram a desculpa para a desclassificação do artista dizendo que a música fugia dos padrões estabelecidos para as canções do festival, por isso a plateia havia vaiado. Quando, na verdade, o público se mostrava decepcionado, pois não entendeu a intenção da música, que criticava duramente e denunciava a máfia no futebol brasileiro. O povo entendeu que a canção fugia do conceito do ato político em que o festival havia se transformado, condenando - o a desclassificação.

Percebemos mais o uso da cultura como mercadoria nesse caso de Sérgio Ricardo quando os produtores do festival dizem que ele sumiu em consequência do seu ato de rebeldia na apresentação. Enquanto, na real, ele continuava sua carreira brilhante. Seu sumiço aconteceu por causa da censura e da perseguição que o militarismo moveu contra o artista e somente o que aconteceu naquela noite é contada pelos produtores, como se o produto tivesse sido banido do mercado cultural naquela noite.

Uma coisa é fato, a vontade de comercializar a cultura que os produtores tentaram com a criação daquele festival foi menor do que a proporção com que a sociedade brasileira recebeu e se apropriou das mensagens transmitidas naquela noite de final do Festival da MPB de 1967. Foi transmitida uma nova cultura ao povo e ela foi tomada como forma de conduta, de comportamento. Afinal, o festival serviu para dar voz à sociedade reprimida na época. Através do poder da burguesia que detinha os direitos da TV Record, o festival trouxe ao público um desejo de lutar pelos direitos de cidadão e foi usado, naquele momento, como arma contra a ditadura e o militarismo, já que a censura era cruel naquele tempo.

O festival tratava-se de um recurso de marketing e tinha a intenção de transformar canções e artistas em mercadoria. O produto criado atingiu uma grande quantidade de pessoas, pois o conteúdo das canções, baseado na época em que se encontrava, era de fácil assimilação e rapidamente sua utilidade foi encontrada.

A proposta se deu como pensado, afinal, mesmo com a interpretação dos festivais voltada à política, o evento não deixou de ser uma mercadoria, uma cultura que foi vendida à sociedade e modificou todos os padrões de comportamento que vigoravam naquela época. Independente de como o público recebeu e tomou posse do que lhe foi transmitido, a mídia mostrou sua força em mais esse fato histórico.

Até os dias de hoje, o apego pela música popular brasileira é bem forte e evidente no nosso país. De certa forma, a intenção do novo que aqueles produtores criaram e as cenas vividas naquela noite em 67, massificou o gosto por um determinado estilo musical e por grandes artistas consagrados através dos tempos.

Disciplina: Teoria da Comunicação II.

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