Proposta: Grupo social “Produtora A” x Teoria das Mediações
- Fabiene Mattos
- 27 de jan. de 2016
- 7 min de leitura
O grupo social se dá através do estabelecimento de associações humanas entre indivíduos que possuem os mesmos interesses, ou seja, identificam-se entre si por desejo de alcançar um objetivo. Esse grupo cria valores e morais a partir de seu senso histórico e convívio na sociedade. Só é considerado um grupo social quando há interação entre os indivíduos.
Os grupos sociais possuem formas de organização que podem ser objetivas ou subjetivas. Existe uma consciência grupal que mantém a união, ou seja, “nós” ao invés do “eu”, certos valores, princípios e objetivos em comum, são responsáveis para manter o elo.
Tivemos contato com um desses grupos sociais a fim de entender como se dá a mediação com seu público alvo. Para que fosse possível identificar esse processo tão complexo entre a emissão da mensagem e a recepção pelos interessados, fomos até onde o grupo se reúne para planejar os temas que serão abordados e como será feita a divulgação.
A “Produtora A” foi escolhida por ter uma ideologia de cunho social e por realizar projetos diversos de integração da sociedade. Surgiu há cinco anos atrás, quando a Banda A, criada pelo publicitário e músico Wagner Felipe, começou a desenvolver o projeto “Amor para Todos”, idealizado pelo próprio músico. A equipe é composta por profissionais do meio musical (compositores, intérpretes, técnicos de som, etc.), além de colaboradores provenientes do meio visual (artistas plásticos, técnicos de iluminação e projeção, etc.)
Alguns dos projetos executados no momento são:
1 – O “Rap Enter”, projeto criado com a finalidade de proporcionar abertura para a difusão da cultura Hip Hop, por meio da música e do grafite. Prevê convivência artística e busca enriquecer a sociedade, além de incentivar novas parcerias artísticas, interatividade com o público e dar importância ao livre discurso.
2 – “Estúdio A Convida” é uma websérie semanal que apresenta interpretações espontâneas de composições inéditas de artistas dos mais variados gêneros musicais, com a intenção de fomentar a interação e organização desses artistas;
3 – “Projeto Amor para Todos” tem o propósito de transmitir o conceito de amor, assim como foi vivenciado durante o processo de criação. Além do entretenimento há uma concepção e envolvimento artístico.
Durante o processo de reconhecimento do grupo, percebemos que a inspiração que move o projeto vai desde uma questão espiritual a uma insistência em ideais subjetivos: o respeito, a amizade e o amor pela música. Os integrantes acreditam que a disseminação da cultura no meio social é essencial para humanização de uma sociedade carente do conhecimento de seus direitos, em relação a tudo a que se tem direito. Para o grupo, a poesia é a ferramenta necessária para que haja essa interação que leva à integração.
Todo grupo social dispõe de meios para se sustentar e sem esses mecanismos, não podem continuar existindo. Um deles é a liderança, que consiste na capacidade de comandar ou orientar os outros indivíduos que fazem parte desse meio. No caso que estamos analisando, o líder se definiu a partir das ideologias que deram origem ao projeto inicial e que já pertenciam a ele e pelas habilidades próprias do integrante. Wagner Felipe é técnico em publicidade, o que possibilita que use seu conhecimento da área para discutir planos de marketing com os parceiros do projeto, de maneira mais clara.
Outra forma de sustentar o grupo social formado pela Produtora A seriam os meios usados para a divulgação e comunicação com os públicos de interesse. Para essa relação, a produtora utiliza os meios mais comuns hoje em dia: telefonia móvel, redes sociais e e-mail. Os integrantes nos revelaram que não funcionam como esperavam, a resposta ainda é pequena, mas suprem as necessidades temporárias.
Os membros colocam em pauta nas suas reuniões o uso da Publicidade para que a marca seja reconhecida e como uma forma de atrair o público para os projetos, assim como clientes para a empresa. No entanto, o meio ainda em alta usado para disseminar as ideias dos projetos é a internet, pois reduz o custo de produção e quantidade de mão-de-obra necessária para execução, o que contribui para que o projeto mantenha sua integridade, mesmo com a falta de dinheiro, clientes ou públicos.
As interações entre os integrantes acontecem principalmente em prol dos projetos, porém mantém-se uma relação estreita entre eles, expandindo os encontros em folgas, churrascos e até viagens em grupo. Todos os envolvidos estão comprometidos permanentemente com os projetos.
Os símbolos de um grupo social se caracterizam por representar algo mais complexo e abstrato, algo que faça parte da subjetividade desse grupo e que é usada de maneira que transpareça os valores e desejos daquele grupo. Apesar de algumas vezes expressarem opiniões divergentes, procuram discutir até que se encontre uma solução, com disposição e interesse de todos os integrantes para entender os demais, o que quase não se encontra hoje em dia. Na sociedade em que vivemos ouvir o próximo e aceitar suas visões se tornou raro, a ação de pensar em responder antes mesmo de o outro dar uma pausa, prejudica a atenção em que se deve ter mediante um problema a ser resolvido.
Todo grupo possui símbolos e linguagens que o representam de alguma maneira. Sem isso não há organização social humana para se obter um ideal. Com a “Produtora A” não é diferente; possui uma produção musical própria e os membros dizem ter seus valores bem definidos na criação dessa letra. Esses valores e ideias regem o comportamento do grupo dentro do contexto social.
A seguir, a produção cultural que descreve os esforços da Produtora A na execução dos diversos projetos aqui expostos e que culminam na vontade de viverem no cenário descrito por eles durante toda a convivência:
“Cantando Amor para Todos”
No canto de toda essa gente
No laço da vida é contente
Chega de vagar
Está entre artistas e poetas
Cantando Amor para Todos
Com violão e uma estirpe urbana
São Paulo, da Sul, Eliana vai cantar
Amor para Todos
O principal objetivo em comum entre os integrantes é poder viver de sua arte. Honestidade e o zelo por um trabalho bem feito são os princípios que devem ser respeitados ao longo de todo o trajeto em busca de tal objetivo.
Um problema citado por eles, sobre a falta de reconhecimento com relação aos músicos independentes e a projetos para alavancarem essa carreira, é de que a música independente brasileira é desorganizada e desunida e por isso é necessário tempo e muito trabalho para conquistar públicos e convencer esses artistas de sua relevância. Esse trabalho vem acontecendo através do projeto citado no início: “Estúdio A Convida”.
A comunicação direcionada à sociedade deve analisar conflitos, contradições e transformações sociais, para que a mediação entre o grupo social e o público alvo seja conduzida e recebida de forma a causar efeitos positivos. A intenção dessas mensagens, podem ser recebidas de diversas formas, levando em consideração o momento da transmissão, ou seja, que ação o indivíduo está executando ao receber e até mesmo sua vivência individual.
Estudos mostram que problemas enfrentados pela sociedade num determinado momento histórico, influenciam drasticamente na articulação das práticas de comunicação, portanto deve-se analisar todo o contexto a que o grupo social está envolvido, para que os meios utilizados a fim de divulgar e propagar suas ideologias, funcionem com eficácia.
A visão do poder político, muitas vezes, é o ponto forte que cruza uma transmissão de ideias. Como exemplo, o grupo cita o problema da falta de abertura para questionamentos e debates nos dias de hoje, por conta do sistema de governo em que vivemos, nem tanto pelo medo de repressão, mas sim pela falta de consciência da sociedade de que existem essas necessidades de discussões sociais, pois acaba sendo limitada pelo sistema instituído por aqueles detém o poder. O poder político controla recursos que são transferidos ao âmbito cultural, por isso acaba prejudicando, de certa forma, o processo que deveria auxiliar o trabalho em relação aos movimentos sociais.
Esses grupos constituídos com intuito de aumentar a visibilidade da cultura e liberdade de expressão são extremamente importantes para dar suporte às práticas culturais. O processo comunicativo deve produzir significados aos receptores e não se tornar somente circulação de informação, pois o mesmo que recebe a mensagem, também a transmitirá, carregada de um sentido subjetivo.
No caso da Produtora A, percebemos que os meios de comunicação utilizados por eles, não respondem às expectativas iniciais, obrigando-os a não poupar esforços para a conquista de reconhecimento do grupo e de suas causas. As ideologias transmitidas afetam diretamente a subjetividade do próprio grupo, alterando seu comportamento mediante a sociedade contemporânea.
A população passa o sentimento de necessidade em ser ouvida, em obter voz para lutar por suas causas, como mais amor entre os indivíduos e como o reconhecimento dos músicos independentes por exemplo, se pensarmos nos projetos da Produtora A; a empresa identifica esse pedido de ajuda e cria produções com a intenção de promover essas concepções.
A participação ativa dos cidadãos na divulgação desses conteúdos pode contribuir para aproximar ou inserir esse pensamento à vida diária dos públicos em questão. Esse exercício ajuda a estabelecer uma conexão entre a experiência cotidiana e o contexto de liberdade de expressão. O envolvimento da subjetividade, tanto do grupo quanto do público a ser atingido, relaciona-se com o uso criativo dos meios de comunicação, que servem para organizar, compartilhar informações e coordenar eventos e atividades programadas. Os meios usados pela Produtora A como e-mail, telefonia e redes sociais, devem servir de âncora, expressando subjetividade sem mostrar manipulação em relação aos interesses do grupo.
A criação de uma rádio comunitária com uma programação inteiramente voltada às suas ideologias seria uma ótima opção como complemento dessa comunicação dirigida, ou seja, como um mecanismo de fortalecimento dos objetivos.
Concluímos então, que a troca de informações deve ser um processo contínuo que acontece de forma circular, ou seja, a sociedade expressa suas necessidades, que são entendidas e absorvidas pela Produtora A, que transforma essas reivindicações em projetos sociais, repassando novamente para a primeira as mensagens ideológicas.
Utilizar a comunicação popular e comunitária consiste na melhor forma para suprir as vontades de propagar as ideias originais desse grupo social, sempre cumprindo um papel coletivo, com a participação da população interessada, definida geograficamente ou por afinidade de gênero.
Os meios de comunicação social podem ser vistos como produtores ou difusores de leituras do mundo, podem servir como agentes de motivação e transformação ou até mesmo manutenção das situações e relações entre os indivíduos. Essa mediação entre as partes facilita a apropriação de temas que afetam o cotidiano e tornam os membros dos grupos capazes de analisar e propor alternativas de ação para construir uma nova história e alcançar os objetivos propostos.
Cada um à sua maneira, Produtora A e sociedade, promovem articulações entre o mundo da vida e a esfera pública.
Integrantes: Fabiene Mattos, Ana Carolina Cruz, Angélica Moreira, Déborah Kayamori, Denise Cirlei, Fernanda Grassi e Maria Julia Francese.
Disciplina: Teoria da Comunicação III.
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