Proposta: Resenha do livro Antropologia e Arte do autor José Ronaldo Mathias
- Fabiene Mattos
- 27 de jan. de 2016
- 4 min de leitura
O palco da performance do ser humano
Mathias, Ronaldo. Antropologia e Arte. Coleção Saber de Tudo. Editora Claridade. 1ª Edição – São Paulo – 2014.
O livro “Antropologia e Arte”, destina-se a atender especialistas que procuram ser mais didáticos em sala de aula e aos universitários, com uma linguagem de fácil assimilação. Essa obra oferece conceitos ligados ao tema Antropologia e a importância de estar ligada à arte para os estudos da cultura no Brasil.
A obra é dividida em oito capítulos, separados em duas partes. A primeira apresenta a ciência da antropologia e seus conceitos fundamentais; a segunda, mostra como os estudos refletem na cultura e na identidade do Brasil. As 118 páginas nos dão a grata experiência de conhecer o outro e de entender as diferenças existentes em suas práticas. Essa resenha conta um pouco sobre a primeira parte do livro.
A Antropologia, tem a preocupação de compreender que somos seres de processo e que travamos relações a partir da interação com o outro. Coloca em pauta a necessidade de uma mudança em nossa percepção e que nenhuma postura é natural, mas sim é criada pela cultura. Usando o exemplo da carta de Pero Vaz de Caminha, o livro descreve como pode ser criado um discurso a partir de um contato superficial e de que forma pode ser equivocado e errôneo. A carta tinha a intenção de persuadir a igreja católica, para conquistar e colonizar as terras dos índios, descritos como selvagens. Para mostrar que não existe uma forma correta de se relacionar com o outro, coloca-se em questão a antropologia cultural, que estuda as diferenças de atitudes, compreendendo a cultura própria de um povo: suas artes, alimentação, etc. A cultura é apreendida através da linguagem simbólica inventada pela sociedade, não é instintiva, nem estática e determina o comportamento humano.
Três conceitos influenciam na Antropologia, que são a aculturação, o etnocentrismo e o relativismo cultural. A aculturação se dá quando um grupo é influenciado por outro, modificando suas culturas, acontece de forma voluntária ou de forma violenta, portanto, não existe pureza na cultura ou no povo. O etnocentrismo se dá quando colocamos o nosso ponto de vista ao avaliar alguém, é inerente a todos os povos e tem as raízes na ordem social, política, psicológica, etc. É a maneira de olhar o mundo e não aceitar as diferenças, que ganhou força com a Conferência de Berlim. As conclusões produzidas através da observação e da convivência com outros grupos, dão origem ao relativismo cultural, que é um método de observar culturas sem a visão etnocêntrica e parte do princípio de que os povos têm práticas particulares, é a afirmação de identidade cultural de um grupo. É importante lembrar que antropólogos jamais interferem ou permitem que alguém interfira nos costumes de cada grupo.
A identidade é um assunto muito importante pois é o centro de análise das etnias, é construída e reconstruída diariamente. Juntamente com a arte, a antropologia propõe reflexões sobre os brasileiros e sua cultura. Inúmeros textos, obras sociológicas e literárias baseiam-se na compreensão dos valores e crenças do brasileiro, por exemplo, o poema Marabá, de Gonçalves Dias e a obra Casa Grande & Senzala, de Darcy Ribeiro. A arte está ligada à cultura de um povo. A identidade do brasileiro se refaz e mistura-se a de outros povos lenta e constantemente. Pensar o jeitinho brasileiro é muito complexo e demorado.
Ronaldo Mathias trata com suma importância o estudo da antropologia vinculada à arte e analisando o contexto atual em que vivemos hoje, entendemos o motivo. Suas reflexões mostram que, antes de julgarmos e interferirmos na cultura de um povo, é necessário entender seus valores culturais, seus comportamentos e acima de tudo, aceitar e respeitar. Ronaldo mostra que não existe certo ou errado, aceitável ou inaceitável na cultura de um povo, mas sim diferentes representações de uma identidade própria e mutável.
O autor dá exemplos de ações que aconteceram há muito tempo para contextualizar a importância da antropologia, mas nós não vamos muito longe. A diversidade dos aspectos que nos rodeiam, produzindo identidades distintas, é grande e a tendência que temos de criar estereótipos é inevitável, aliás, consequência do etnocentrismo que é inerente ao ser humano. As maneiras de agir, vestir, comer, falar, etc. são identificações próprias e demonstrações das crenças em que acreditam, compreender e ter respeito é imprescindível.
A antropologia afirma que não se deve tratar com estranhamento aspectos que não estão presentes em nosso ambiente particular. Referente à cultura, tudo é complexo, cada objeto tem seu valor e significados diferentes, assim a cultura influencia em nossa natureza. A cultura nos faz ser autênticos e não estamos isentos de transformações e evoluções.
Não existe o modo de ser “ideal’, existe o jeito de ser “real” que é criada de acordo com o contexto em que o indivíduo está inserido e de sua liberdade de se comportar. É de vital importância o relacionamento entre os povos e a convivência intercultural, se no futuro quisermos conviver de forma pacífica e estável. As violências, as guerras, o terrorismo, só poderá ser banido se a comunicação e a convivência se expandirem. O estudo da antropologia ajuda o ser humano a progredir em sua essência conhecendo os povos, suas culturas, seus costumes e religiões, o conhecimento gera compreensão, amizade e diminui nossos medos que geram desentendimentos e conflitos.
Ronaldo Mathias nos presenteia com uma importante ferramenta de reflexão, que permite abrir os novos horizontes da percepção e nos resgata do engessamento promovido pelos pré-conceitos criados a partir da ignorância e falta de visão. A leitura de “Antropologia e Arte” é sem dúvida uma luz que promove a convivência pacífica da sociedade.
Ronaldo Mathias tem verdadeira paixão pelos temas abordados em Antropologia e Arte, é formado em Direito pela UNIPAC-MG (1995), com mestrado em Administração pela UDESC-SC (2001) e doutorado em Comunicação pela ECA/USP (2006). Professor de graduação e pós-graduação em disciplinas que relacionam antropologia e as artes. É coordenador de Iniciação Científica desde 2009 e nesse ano de 2015 tornou-se coordenador do curso de Relações Públicas no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. É editor da Revista Arte 21, desse Centro Universitário. Autor do material didático de Antropologia Cultural (EAD) e dos cursos de design no EAD da Belas Artes.
Essa resenha é uma breve contribuição para quem se interessa em desvendar os mistérios do ser humano. Escrita pelas alunas do 4º semestre de Relações Públicas da Faculdade Belas Artes, Fabiene Mattos e Denise Cirlei.
Disciplina: Antropologia Cultural.
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